Acho minha história um pouco parecida com a do filho
pródigo, embora eu não tenha pedido a minha herança, mas pelo afastamento do
pai, pela entrega aos prazeres da carne. E acredito que há muitos filhos
pródigos pelo mundo afora, uns que já retornaram ao seio familiar, outros que
ainda andam perdidos, comendo a lavagem que o mundo oferece. Este capítulo é
para você que um dia deixou o caminho de Deus para viver o seu próprio caminho,
é para você que sonha voltar pra casa, mas está sem jeito, com medo de
críticas, com medo do abraço do pai.
Conta a palavra de Deus que um homem tinha dois
filhos. Certo dia o mais novo chegou para o pai e pediu a parte da herança que
lhe cabia. Você já parou pra pensar como este filho pediu ao pai esta herança?
Será que ele chegou de mansinho ou foi arrogante? Como será que procedeu este
diálogo? Acredito que o filho tenha sido
bastante imperativo, pois como traz o texto “Pai, me dá a parte da herança
que me cabe!”. Ele foi incisivo. Não deu alternativa para o pai. Não
houve por favor, não houve será que é possível o senhor me dá a minha
parte da herança... Foi contundente
naquilo que queria: “Pai, me dá a minha
herança”. Ele deu uma ordem ao próprio pai. Inverteu
os papéis e talvez pela sua ânsia de partir nem se deu conta do que estava
fazendo, talvez nem percebeu as possíveis lágrimas nos olhos do pai ou talvez a
voz engasgada atendendo aquele pedido tão inesperado. Quantas vezes agimos
assim diante daqueles a quem amamos? Quantas vezes agimos assim quando queremos
algo? Ouvimos só a nós mesmos e nada que nos cerca tem importância, o que
importa é ir adiante em busca de meus objetivos sem se importar se alguém está
ficando ferido ou não. Com certeza aquele pai ficou sangrando de dor. O egoísmo
falou mais alto e todos os sentidos daquele jovem ficaram obscurecidos pela sua
sede de receber a herança.
Herança são os
bens recebidos de alguém após sua morte, portanto naquele momento
podemos concluir que para aquele filho seu pai estava morto. O que importava
para ele era ter o seu dinheiro na mão. Não pensou no seu irmão mais velho, não
pensou no seu pai, só em si mesmo, esqueceu talvez que o coração de seu pai
ainda pulsava, mas pra ele nada daquilo mais importava. Queria partir.
De posse da
herança ele partiu para um lugar distante. Lá esbanjou tudo numa vida
desenfreada. Aproveitou os prazeres que o mundo ofereceu. Com certeza fez
muitos “amigos” enquanto tinha dinheiro, conquistou muitas mulheres. E neste
período de fartura nem se lembrou do pai. Não é diferente com muitas pessoas
hoje em dia. Eu
vivi isso como relatei no capítulo anterior. É um mergulho no nada e cada vez
queremos mais e mais e nada nos satisfaz, por isso a necessidade de buscar mais
e mais e até nos consumirmos, até não termos mais forças físicas. Quando gastou
tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região. Ele começou então a
passar necessidade. Acabou parando num sítio onde cuidava dos porcos e a fome
era tanto que desejou comer a lavagem dos porcos, mas nem isso lhe davam.
Quando saímos da presença de Deus, deixamos um banquete para comer lavagem,
deixamos um jardim de delícias para viver num labirinto, não sabemos pra onde
estamos indo e cada caminho nos leva a um lugar diferente, a experimentar um
pecado novo, uma nova transgressão, enquanto o caminho do Pai nos leva a único
lugar: o céu.
Caindo em si
lembrou-se dos empregados do seu pai, os quais tinham pão com fartura e ele
naquele lugar distante e passando fome. Decidiu voltar. Tão logo seu pai o
avistou encheu-se de compaixão. Correu ao seu encontro, o abraçou e o cobriu de
beijos. Então o filho disse: “Pai, pequei
contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu filho”. O pai,
porém, pediu aos empregados que trouxessem depressa a melhor túnica para vestir
seu filho. Pediu que colocassem um anel em seu dedo e sandálias nos pés. Pediu
ainda que matassem um novilho gordo para fazer um banquete. E completou
dizendo: “Porque este meu filho estava
morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado.”
Com certeza este filho ficou surpreendido com a
atitude do pai, pois quando decidiu voltar para a casa ele trazia este
pensamento em seu coração: “... vou me
levantar, e vou encontrar meu pai, e dizer a ele: - Pai, pequei contra Deus e
contra ti; já não mereço que me chamem teu filho. Trata-me com um dos teus empregados.” Imagine alguém que esperava
ser tratado como um empregado ser recebido com festa, receber roupas novas e
ser coberto de beijos e envolvido pelos braços calorosos do pai. Quanta emoção
se passou naquele instante! Eu imagino o que aquele filho sentiu ao ser
recebido sem um dedo apontado para o seu nariz. Quanta alegria ele teve em seu
coração ao receber o perdão, a misericórdia do pai! Talvez ele viesse pensando
pelo caminho como convencer seu pai para aceitá-lo de volta, talvez viesse
ensaiando a fala, trêmulo, agitado, sem graça, mas nada foi como imaginou, e
aquilo o impactou. Foi acolhido de braços abertos porque para o pai ele nunca
deixou de ser filho, para o pai ele não perdeu o valor mesmo cometendo tantos
erros, para o pai ele continuava especial e como tal deveria ser recebido.
Hoje muitos jovens perdem o jeito de voltar por medo
da rejeição, das críticas, medo do dedo apontado em sua direção, medo das
palavras duras, do castigo. Muitos pensam que não há mais retorno, que ninguém
se importa mais com eles, que já não tem mais jeito, estão perdidos e não há
mais solução para tantos erros. E com
esses pensamentos vão se enveredando cada vez mais para um caminho escuro que
leva para a morte. Mas é preciso saber que a misericórdia de Deus vai além da
nossa fraqueza e nós não a entendemos. Não importa em que caminho você tenha
andado, se quiser voltar, tenha certeza o Pai estará sempre te esperando na
varanda, no portão de sua casa e os braços estendidos para abrigá-lo em seu
peito e dizer que o ama, que nunca deixou de amar, que aceita você de volta e
que vai ajudar você. Para todo caminho há uma volta. Não tenha medo.
Se aquele jovem tivesse se apegado aos sentimentos
que tumultuavam sua mente talvez não tivesse voltado para casa. Outro fato
interessante é que ele reconheceu seus erros. E estava disposto a levar uma
nova vida, mesmo que não fosse como filho, mas queria estar perto do pai nem
que fosse como um empregado, isso lhe bastaria. Não importava ser tratado com
um servo, desejava estar de volta à casa do pai onde poderia saborear o pão com
fartura... Reconheço que o filho pródigo
era um jovem de atitude. Quando quis sair de casa foi firme em sua decisão, e
quando sentiu o desejo de voltar também não hesitou. Enfrentou o desafio
interior e retornou. É preciso atitude para mudar de vida, para retornar.
Quando o filho mais velho ao retornar do trabalho
ouviu barulho de música e barulho de dança chamou um dos criados e perguntou o
que estava acontecendo. O criado contou-lhe o que havia acontecido. Então ele
ficou com raiva e não queria entrar. O pai insistiu com ele, mas ele respondeu:
“Eu trabalho para ti há tantos anos,
jamais desobedeci ao qualquer ordem tua; e nunca me deste um cabrito para eu
festejar com meus amigos. Quando chegou este
teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho
gordo!” O pai lhe respondeu: ”Filho,
você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu, mas era preciso festejar e
nos alegrar, porque esse seu irmão
estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado.” A princípio
tendemos dar razão ao filho mais velho, afinal ele que trabalhava de sol a sol,
que estava junto do pai, cuidando das suas coisas... Mas na verdade sua atitude
foi egoísta, não usou de misericórdia. Não se alegrou em ver o irmão que talvez
julgassem estar morto, não foi capaz de ver a alegria do seu pai em receber o
filho de volta, demonstrou ter um coração endurecido, incapaz de perdoar. E
quando falou com o pai nem o chamou de irmão (este teu filho), mas o pai ao dar a resposta fez questão de frisar esse seu irmão estava morto... Como se
dissesse não é apenas meu filho, é seu irmão! Seu irmão, meu filho! É seu irmão
que voltou, alegre-se comigo! Ele foi reencontrado! Você já está comigo e me
deu alegria todos estes anos, mas este teu irmão estava morto e tornou a viver,
é preciso festejar, pois há muito não o víamos.
Esse encontro do filho pródigo com o pai é um momento
único na vida daquele jovem e acredito que a partir daquele momento ele
entendeu o verdadeiro sentido da sua existência e pode experimentar
profundamente a misericórdia. Quantas jovens desejam ter esse encontro! Quantos
pais esperam ansiosos seus filhos para darem um abraço! Muitos moram sob o
mesmo teto, mas vivem em mundos diferentes, uns mortos, outros enfermos. Há um
vazio na alma que precisa ser preenchido. Há uma busca frenética para
satisfazer seus desejos, para sentirem felizes, mas em tudo que buscam não se
sentem plenamente felizes; em alguns momentos talvez, mas quando a euforia
passa o jovem vê que a alegria foi embora com efeito do álcool ou da heroína.
Então ainda em si vê suas misérias e muitas vezes lhe falta atitude para voltar
ou dar um grito por socorro!
Finalizando quero enfatizar uma coisa:
nunca é tarde para voltar nem cedo demais para perdoar. Seja você o filho
pródigo, o irmão mais velho ou o pai, o que nos move é o amor, portanto use
sempre de misericórdia. O encontro com Deus modifica as pessoas e as impulsiona
a ir atrás daqueles que estão longe, a receber bem os que retornam, mesmo
aqueles que julgamos não merecer mais uma chance, mesmo aqueles que já
retornaram várias vezes e se sucumbiram ao pecado, mesmo aqueles que não nos
querem bem, portanto quem teve um encontro com Deus, encontrou o amor e amor
perdoa, acolhe, é paciente, tudo suporta...
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