Esta novena é um verdadeiro caminho espiritual. Ao final dela, tenho certeza que você se sentirá leve, e muito mais unido a Deus.
Iniciar todos os dias com estas orações:
Em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.
Vinde
ó Deus em meu auxilio
R. Senhor, apressai-vos em me socorrer
R. Senhor, apressai-vos em me socorrer
Glória
ao Pai...
Vinde,
Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei
neles o fogo do Vosso amor. Enviai, Senhor, o Vosso Espírito, e tudo
será criado, e renovareis a face da terra.
Oremos
Ó
Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do
Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas e
gozemos sempre da sua consolação. Por nosso Senhor Jesus Cristo,
Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amem.
Cântico
Espiritual
Buscando
meu Amor, meu Amado / vou por montes
e vales, sem temer mil perigos. / Nem flores colherei no caminho, / pois segui-lo é preciso sem deter-me ou parar! / Já não tenho outro oficio: só amar - o exercício! / Solidão povoada, presença amorosa do Amado! / Viver ou morrer sem Ele eu não quero ser!
Mil
graças, derramando, Ele passa / Lhe descubro as pegadas / Voo,
alcanço o infinito! / Oh! Fonte, luz dos olhos, guarida / nosso
encontro esconde o segredo do amor!
No
gozo deste amor só desejo /os abraços e beijos do Senhor, meu
Amado! / Se acalma, já em paz, a Minh ‘alma: / Deus em mim e
eu Nele, tudo é festa sem fim!
Oração:
Senhor
nosso Deus, sabemos quanto amais os homens todos, mas em especial
aqueles que se tornaram santos e mais semelhantes a Vós. Fazei-nos
compreender e buscar a santidade através desta novena em louvor a
São João da Cruz, o cantor do Amor, e seguindo seus passos,
possamos chegar à contemplação da Vossa glória e gozar-vos
eternamente no céu. Isto vos pedimos por Vosso Filho Nosso Senhor
Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo.
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1º Dia – Onde é que te escondestes?
“Onde
é que te escondeste, Amado, e me deixaste com gemido? ”
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 6, 5-13)
Quando
orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé
nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos
homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando
orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em
segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á. Nas
vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os
pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras. Não os
imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que
vós lho peçais. Eis como deveis rezar: PAI NOSSO, que estais no
céu, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso Reino; seja
feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de
cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós
perdoamos aos que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal.
O Verbo, Filho de Deus, com o Pai e o Espírito Santo, está essencial e presencialmente escondido no íntimo ser da alma. Para achá-lo, deve, portanto, sair de si mesmo, entrar em seu interior, considerando todas as coisas como se não existissem.
O Verbo, Filho de Deus, com o Pai e o Espírito Santo, está essencial e presencialmente escondido no íntimo ser da alma. Para achá-lo, deve, portanto, sair de si mesmo, entrar em seu interior, considerando todas as coisas como se não existissem.
O
pecado nos afasta de Deus e esquecemos que Ele está dentro de nós.
O Senhor está dentro de nós e somos seu templo. É preciso entrar
neste templo para encontrá-lo. Jesus
nos ensinou a rezar dizendo: “entra em teu quarto, fecha a porta e
ora ao teu Pai em segredo”.
Chamar
Deus de Amado é movê-lo a
inclinar-se para ouvir nossos pedidos. É necessário perseverar na
oração, permanecer na presença de Deus com o coração unido a
Ele, cheio de amor.
É
necessário que saiamos de nós mesmos, dos nossos comodismos, da
nossa forma rasteira de amar, para que o Senhor possa de fato
preencher todo o nosso interior e fazer-nos frutificar em amor, em
boas obras.
Oração
Ó
Deus que guiastes São João da Cruz à santa Montanha que é Cristo,
através da noite escura da renúncia e do amor ardente à Cruz,
concedei-nos segui-lo como mestre de vida espiritual para atingir
contemplação de vossa glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
São
João da Cruz, rogai por nós. Amém.
Reflexão
-
O que faço para encontrar a presença de Deus quando experimento a
sua ausência e a oração fica difícil?
Resolução
prática
Buscar
a presença de Deus em todos os momentos e fugir das ocasiões de
pecado que nos afastam do Amor de Deus.
2º
dia - Mostra tua presença
“Mostra
tua presença! / Mate-me a tua vista e formosura; / Olha que esta
doença de amor jamais se cura, / A não ser com a presença e a
figura. ”
Evangelho
de Jesus Cristo segundo São João (Jo 14, 21-24)
Aquele
que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é que me ama. E aquele
que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e manifestar-me-ei
a ele. Pergunta-lhe Judas, não o Iscariotes: Senhor, por que razão
hás de manifestar-te a nós e não ao mundo? Respondeu-lhe Jesus: Se
alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós
viremos a ele e nele faremos nossa morada. Aquele que não me ama não
guarda as minhas palavras. A palavra que tendes ouvido não é minha,
mas sim do Pai que me enviou.
Há
3 espécies de presença de Deus na alma. A 1ª é por essência:
desta maneira Ele está presente não só nas almas boas e santas,
mas também nas más e pecadoras, assim como em todas as criaturas;
porque sem essa presença essencial que lhes dá vida e ser, se lhes
faltasse, todas deixariam de existir.
A
2ª é a presença pela graça em que Deus habita na alma, satisfeito
e contente com ela. Nem todas gozam dessa espécie de presença, pois
as que estão em pecado mortal perdem-na; e a alma não pode saber
naturalmente se a possui.
A
3ª é por afeição espiritual, e em muitas almas piedosas costuma
Deus conceder algumas manifestações espirituais de sua presença
por diversos meios, a fim de proporcionar-lhes consolação, deleite
e alegria.
Estas
presenças são encobertas; nelas, Deus não se manifesta tal qual é,
pois não aguentaríamos em nossa vida mortal.
É
pela fé que essas verdades são infundidas na alma. A fé nos dá e
comunica o próprio Deus.
Oração
Ó
Deus que guiastes São João da Cruz à santa Montanha que é Cristo,
através da noite escura da renúncia e do amor ardente à Cruz,
concedei-nos segui-lo como mestre de vida espiritual para atingir
contemplação de vossa glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
São
João da Cruz, rogai por nós. Amém.
Reflexão
-
Como tenho vivido a minha fé Batismal?
-
Assumo meus compromissos de cristão com verdadeiro espírito de fé?
-
Se sou religioso (a) ou pessoa consagrada, como entendo a fé na
minha vida, e como testemunho esta minha fé?
Resolução
prática
Procurar
ver Deus em todas as coisas, não se prendendo às suas consolações,
mas às verdades da fé. Levar o conforto e o consolo para todos os
que sofrem.
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3º
dia - Quando Tu me olhavas
“Quando
tu me olhavas, Teus olhos, tua graça me infundiam. ”
Evangelho
de Jesus Cristo segundo São João (Jo 4, 21-24)
Jesus
respondeu: Mulher, acredita-me, vem a hora em que não adorareis o
Pai, nem neste monte nem em Jerusalém. Vós adorais o que não
conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem
dos judeus. Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros
adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses
adoradores que o Pai deseja. Deus é espírito, e os seus adoradores
devem adorá-lo em espírito e verdade.
É
próprio do amor nada querer ou admitir para si, nem se atribuir
coisa alguma, mas referir tudo ao Amado. Se nos amores da terra é
assim, quanto mais no amor de Deus, onde tanto obriga a razão! O
olhar de Deus é o seu Amor. Inclinando-se para a alma, imprime e
infunde nela misericordiosamente o amor e a graça de Deus. E quando
Deus põe na alma a sua graça, torna-a digna e capaz do seu amor.
Anima-se agora, porque recebe do olhar de Deus o valor que nele tem,
embora por si mesma nada valha, nem merece estima alguma.
São
João da Cruz quer levar a todos nós o conhecimento da grandeza de
Deus e das graças inumeráveis que Ele nos faz tanto nos bens
espirituais como nos temporais. Convida-nos a servi-lo e adorá-lo
com todas as forças e diz que
se antes não o fazíamos é porque não O conhecíamos. Agora, porém
que Ele já nos fitou nós podemos adorá-lo de
todo o coração.
Oração
Ó
Deus que guiastes São João da Cruz à santa Montanha que é Cristo,
através da noite escura da renúncia e do amor ardente à Cruz,
concedei-nos segui-lo como mestre de vida espiritual para atingir
contemplação de vossa glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
São
João da Cruz, rogai por nós. Amém.
Reflexão
-
Nossas imperfeições, e nossos pecados nos impedem de experimentar a
graça e a formosura de Deus? O que fazer para melhorar neste ponto?
-
O que podemos fazer para crescer cada dia mais na graça e na prática
das virtudes para testemunharmos a beleza e a formosura de Deus na
nossa vida?
Resolução
prática
Procurar
abrir o coração, para que Deus possa olhar cada vez mais para cada
um de nós e assim receber Dele graça sobre graça, para que Ele
possa descobrir em nós as virtudes que nós trocamos pelos pecados
de outrora.
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4º dia - Em uma noite escura
“Em uma noite escura / De amor em vivas ânsias inflamada, /Oh! Ditosa ventura! / Saí sem ser notada, já minha casa estando sossegada. ”
Evangelho
de Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 25, 1-13)
Então
o Reino dos céus será semelhante a dez virgens, que saíram com
suas lâmpadas ao encontro do esposo. Cinco dentre elas eram tolas e
cinco, prudentes. Tomando suas lâmpadas, as tolas não levaram óleo
consigo. As prudentes, todavia, levaram de reserva vasos de óleo
junto com as lâmpadas. Tardando o esposo, cochilaram todas e
adormeceram. No meio da noite, porém, ouviu-se um clamor: Eis o
esposo, ide ao seu encontro. E as virgens levantaram-se todas e
prepararam suas lâmpadas. As tolas disseram às prudentes: Dai-nos
de vosso óleo, porque nossas lâmpadas se estão apagando. As
prudentes responderam: Não temos o suficiente para nós e para vós;
é preferível irdes aos vendedores, a fim de o comprardes para vós.
Ora, enquanto foram comprar, veio o esposo. As que estavam preparadas
entraram com ele para a sala das bodas e foi fechada a porta. Mais
tarde, chegaram também as outras e diziam: Senhor, senhor, abre-nos!
Mas ele respondeu: Em verdade vos digo: não vos conheço! Vigiai,
pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora.
São
João da Cruz quer mostrar que para chegar à divina união é
necessário passar pela Noite Escura. É a noite escura da
mortificação dos apetites e a renúncia a todos os prazeres deste
mundo.
Se
soubessem as almas a abundância de graças e de bens espirituais de
que se privam, recusando desapegar-se inteiramente do desejo das
ninharias deste mundo! Quem se abandona aos apetites sabe por
experiência que, no princípio a paixão parece doce e agradável e
que somente mais tarde se produzem seus efeitos cheios de amargor. Ao
resistir, adquire força, pureza, luz, consolação e outros bens.
Oração
Ó
Deus que guiastes São João da Cruz à santa Montanha que é Cristo,
através da noite escura da renúncia e do amor ardente à Cruz,
concedei-nos segui-lo como mestre de vida espiritual para atingir
contemplação de vossa glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
São
João da Cruz, rogai por nós. Amém.
Reflexão
-
Conheço os meus limites, fraquezas, apetites?
-
O que faço no sentido do autoconhecimento?
-
Deus é maior do que minhas fraquezas. Aceito-me como sou, procurando
crescer ou me limito a olhar o meu lado fraco?
Resolução
prática
Procurar
viver uma vida de fé, esperança e caridade para preparar-se à
união com Deus esvaziando-se de todo o criado e fugindo de toda
ocasião de pecado.
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5º
dia - Em uma noite escura II
“Em
uma noite escura / De amor em vivas ânsias inflamada, / Oh! Ditosa
ventura! / Saí sem ser notada, já minha casa estando sossegada. ”
Evangelho
de Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 8, 22-25)
Num
daqueles dias ele subiu com os seus discípulos a uma barca. Disse
ele: Passemos à outra margem do lago. E eles partiram. Durante a
travessia, Jesus adormeceu. Desabou então uma tempestade de vento
sobre o lago. A barca enchia-se de água, e eles se achavam em
perigo. Aproximaram-se dele então e o despertaram com este grito:
Mestre, Mestre! Nós estamos perecendo! Levantou-se ele e ordenou aos
ventos e à fúria da água que se acalmassem; e se acalmaram e logo
veio a bonança. Perguntou-lhes, então: Onde está a vossa fé?
Eles, cheios de respeito e de profunda admiração, diziam uns aos
outros: Quem é este, a quem os ventos e o mar obedecem?
O
sair de si mesma e de todas as coisas para chegar a viver vida doce e
saborosa com Deus acontece em “uma noite escura”. São 2 noites:
-
A noite dos sentidos: purificação da alma segundo o sentido,
submetendo-o ao espírito.
-
A noite do espírito: purifica e despoja a alma segundo o espírito,
acomodando-a e dispondo-a para a união de amor com Deus.
Sinais
para reconhecer estas 2 noites:
1º)
falta de gosto ou consolo, não somente nas coisas de Deus, mas
também em todas as coisas. Se a noite escura vem de imperfeições e
pecados, a alma sente certa inclinação e desejo de contentar-se em
coisas diferentes das de Deus. Pode também provir de depressão ou
indisposição física.
2º)
tem a alma lembrança contínua de Deus, imaginando que não o serve.
Essa purificação dá ao espírito coragem e força para agir.
Quando procede essa aridez por tibieza e relaxamento, a alma não faz
caso e nem tem solicitude pelas coisas de Deus.
3º)
impossibilidade de meditar.
Como
proceder?
-
Ter paciência e não se afligir. Confie em Deus;
-
Não se preocupe com a meditação. Deixe a alma ficar sossegada, e
persevere, mesmo se achar que não faz nada, e não procure gosto ou
consolação;
Proveitos
que esta noite traz:
-
Deus tira a alma das faixas da infância, descendo-a dos braços e
fazendo-a andar com os seus próprios pés;
-
Conhecimento de si mesmo e de sua miséria;
-
Conhecimento da grandeza de Deus, ficando o entendimento livre para
aprender a verdade. Para ouvir a voz de Deus convém a alma estar
firme;
-
Ganha humildade espiritual, purificando-se de toda soberba em que
costumava cair;
-
Torna a alma submissa e obediente, perdendo a presunção que tinha;
-
Liberta a alma das impurezas quanto a luxúria, mantém refreados a
concupiscência e o apetite, perde a força das paixões;
-
A alma exercita-se nas virtudes, perseverando nos exercícios
espirituais mesmo sem achar consolo nem gosto;
-
A alma consegue paz, contínua lembrança de Deus, pureza de
espírito;
“A
alma que Deus há de levar mais adiante purifica mais o Senhor a fim
de levá-la a divina união”. São
João da Cruz
Oração
Ó
Deus que guiastes São João da Cruz à santa Montanha que é Cristo,
através da noite escura da renúncia e do amor ardente à Cruz,
concedei-nos segui-lo como mestre de vida espiritual para atingir
contemplação de vossa glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
São
João da Cruz, rogai por nós. Amém.
Reflexão
-
Sei distinguir a aridez, fruto da imperfeição, daquela aridez que é
purificação de Deus operando na minha alma?
-
Observo os proveitos que veem à minha alma por estas purificações?
Resolução
prática
Procurar
acolher com docilidade as purificações de Deus a fim de permitir
que Ele realize a sua obra de amor purificando e consolando, elevando
à contemplação verdadeira.
Compreender
e ajudar aqueles que passam pela mesma purificação.
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6º
dia - Em uma noite escura III
“Em
uma noite escura / De amor em vivas ânsias inflamada, / Oh! Ditosa
ventura! / Saí sem ser notada, já minha casa estando sossegada. ”
Evangelho
de Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 4, 1-13)
Cheio
do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo
Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo demônio durante quarenta
dias. Durante este tempo ele nada comeu e, terminados estes dias,
teve fome. Disse-lhe então o demônio: Se és o Filho de Deus,
ordena a esta pedra que se torne pão. Jesus respondeu: Está
escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra de Deus
(Dt 8,3). O demônio levou-o em seguida a um alto monte e mostrou-lhe
num só momento todos os reinos da terra, e disse-lhe: Dar-te-ei todo
este poder e a glória desses reinos, porque me foram dados, e dou-os
a quem quero. Portanto, se te prostrares diante de mim, tudo será
teu. Jesus disse-lhe: Está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e a
ele só servirás (Dt 6,13). O demônio levou-o ainda a Jerusalém,
ao ponto mais alto do templo, e disse-lhe: Se és o Filho de Deus,
lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Ordenou aos seus anjos
a teu respeito que te guardassem. E que te sustivessem em suas mãos,
para não ferires o teu pé nalguma pedra (Sl 90,11s.). Jesus disse:
Foi dito: Não tentarás o Senhor teu Deus (Dt 6,16). Depois de tê-lo
assim tentado de todos os modos, o demônio apartou-se dele até
outra ocasião.
Tendo
Deus purificado os sentidos, agora prepara a alma para purificar o
seu espírito, porque as manchas do homem velho permanecem ainda no
espírito, embora a alma não as perceba nem as veja. Costuma o
inimigo encantar e enganar com grande facilidade, se a alma não
tiver cuidado de renunciar e defender-se fortemente na fé, contra
todos esses sentimentos.
Para
chegar à união plena de amor, convém à alma entrar na noite do
espírito. Nela Deus vai em segredo ensinando a alma e instruindo-a
na perfeição do amor. Trava dentro dela um combate espiritual. A
alma sente-se desprezada e abandonada, seja por Deus como pelas
criaturas, especialmente pelos amigos. Não consegue rezar, parece
que o Senhor pôs uma nuvem diante dela a fim de que não chegue e
Ele sua oração.
Isto
acontece só para dar-lhe luz em todas as coisas. Se ela o humilha, é
apenas com o fim de exaltá-la e elevá-la.
Degraus
da escada mística de amor
1º
- faz a alma adoecer salutarmente de amor. Esta enfermidade, porém,
não é para morrer, senão para glorificar a Deus;
2º
- faz com que a alma busque sem cessar a Deus;
3º
- faz a alma agir e lhe dá calor para não desfalecer;
4º
- causa na alma disposição para sofrer, sem se fatigar, pelo seu
Amado;
5º
- faz a alma apetecer e cobiçar a Deus impacientemente;
6º
- leva a alma a correr para Deus com grande ligeireza, e muitas vezes
consegue nele tocar porque está dilatada no amor.
7º
- torna a alma ousada com veemência, pois o amor leva-a a atrever-se
impetuosamente;
8º
- faz a alma agarrar e segurar sem largar o Seu Amado: “achei o que
ama a minha alma, agarrei-me a Ele e não o largarei mais” (Ct 3,
4);
9º
- faz a alma arder suavemente com doçura e deleite de amor produzido
pelo Espírito Santo;
10º
- faz a alma assemelhar-se totalmente a Deus, em virtude da clara
visão de Deus que a alma já possui: “Bem-aventurados os puros de
coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8).
Oração
Ó
Deus que guiastes São João da Cruz à santa Montanha que é Cristo,
através da noite escura da renúncia e do amor ardente à Cruz,
concedei-nos segui-lo como mestre de vida espiritual para atingir
contemplação de vossa glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo. São João da Cruz, rogai por
nós. Amém.
Reflexão
-
Como me comporto no estado de purificação e sofrimento que vem do
encontro entre o divino e o humano?
-
Há uma diferença total entre noite escura e depressão. Consigo
fazer a diferença e entender os estados de alma e a doença?
Resolução
prática
Entregar-se,
confiantemente ao Senhor, deixando-se purificar para chegar à
perfeição do amor. Não perder tempo no caminho da santificação e
levar outros pelo mesmo caminho.
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7º
dia - Os 3 inimigos da alma
Nos
chamados "Pequenos Tratados Espirituais", de São João da
Cruz, Reformador do Carmelo, encontramos as "Cautelas" que
ele ensinava a seus discípulos para serem usadas contra "os
três inimigos da alma", que são, como nos ensina o Catecismo:
"o mundo, o demônio e a carne."
A
alma que se põe em caminho rumo ao céu encontrará diante de si
diversas barreiras. Precisará superar diversas adversidades, tanto
externas quanto internas para alcançar o tão sonhado céu.
Evangelho
de Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 4, 1-9)
Jesus
dizia-lhes em sua doutrina: Ouvi: saiu o semeador a semear. Enquanto
lançava a semente, uma parte caiu à beira do caminho e vieram as
aves e a comera (demônio). Outra parte caiu no pedregulho onde não
havia muita terra (carne); o grão germinou logo, porque a terra não
era profunda; mas assim que o sol despontou, queimou-se e, como não
tivesse raiz, secou. Outra parte caiu entre os espinhos (mundo);
estes cresceram, sufocaram-na e o grão não deu fruto. Outra caiu em
terra boa e deu fruto, cresceu e desenvolveu-se; um grão rendeu
trinta, outro sessenta, outro cem. E dizia: Quem tem ouvidos para
ouvir, ouça.
Podemos
perceber neste Evangelho aquilo o que São João da Cruz chama de “os
três inimigos da alma”.
Assim,
o que os três inimigos da alma tentam destruir é justamente a
palavra de Deus plantada e cravada em nosso coração. Dessa forma,
ficamos sem armas para o ataque, tornando-nos presas fáceis.
Trata-se então de uma verdadeira Guerra, uma batalha espiritual com
soldados, estratégias e tanques de guerra. E o que está em jogo é
a nossa própria salvação! O que está em jogo é o Céu. Mas
sabemos que, em Cristo somos mais que vencedores e que esta batalha
já foi ganha na Cruz!
São
João da Cruz nos ensina que para vencer qualquer destes inimigos é
preciso vencer os três, e enfraquecendo um, enfraquecem-se os outros
dois. Vencidos os três, cessa a guerra da alma. Mas, para vencer o
inimigo, é preciso conhecê-lo, saber de suas estratégias e
artimanhas, para melhorar nossa defesa e para vencê-los, a fim de
que nossa fé produza fruto cem por um.
CONTRA
O MUNDO
Dentre
os três inimigos da alma, o mundo é o que menos dificuldade
oferece. Temos que optar: ou amamos o mundo, com suas falsas delícias
e mentiras ou amamos o Senhor que nos deu a vida. Não se pode, como
o próprio Jesus já ensinou, amar o mundo e a Deus ao mesmo tempo.
Mas
ao optar pela “porta estreita” de Jesus, a alma deverá passar
por algumas perdas: a “perda” dos amigos, a “perda” dos
deleites mundanos, a “perda” da consideração e admiração dos
amigos e conhecidos. Vivemos no mundo, mas não somos do mundo; “tudo
podemos, mas nem tudo nos convém”. Para Jesus o que vemos como
perda, é antes, um ganho para Deus. É hora de trocarmos tudo, pelo
Tudo que é o Senhor. Não vale a pena desgastar a nossa vida com
aquilo o que passa…
Se
optarmos de uma vez por todas por Jesus este inimigo não mais terá
força contra nós. Então, a palavra chave para lutar e vencer este
primeiro inimigo é o desapego.
Para
conseguires libertar-te perfeitamente do dano que o mundo te pode
causar, hás de usar de 3 cautelas:
Primeira
cautela
-
A primeira cautela é que a respeito de todas as pessoas: tenhas
igual amor e igual esquecimento, quer sejam parentes, quer não o
sejam, desprendendo o coração tanto de uns como de outros; e até,
de certo modo, mais dos parentes pelo receio de que a carne e o
sangue venham a exacerbar-se com o amor natural que costuma existir
entre os parentes e que convém mortificar sempre para atingir a
perfeição espiritual.
-
Considera a todos como estranhos e desta maneira cumprirás melhor o
teu dever para com eles do que pondo neles a afeição que deves a
Deus. Não ames mais uma pessoa do que a outra, porque errarás, pois
é digno de maior amor aquele que Deus mais ama e tu ignoras a quem
Ele ama mais. Esquecendo-os, porém, igualmente a todos como te
convém fazer para o santo recolhimento, livrar-te-ás do erro do
mais e do menos com relação a eles.
Nada
penses em relação a eles, nem bem, nem mal. Evita-os, o quanto te
for possível. E se fores remisso em observar estes pontos, não
saberás ser religioso, nem poderás chegar ao santo recolhimento,
nem se livrar das imperfeições que isso traz consigo. E, se nesse
particular quiseres permitir-te alguma liberdade, com um ou com
outro, enganar-te-á o demônio ou tu a ti mesmo.
Segunda
Cautela
-
A segunda cautela contra o mundo se refere aos bens temporais. Para
te livrares completamente dos danos desta espécie e refreares a
demasia do apetite, faz-se mister aborreceres toda forma de
propriedade. Não deves ter cuidado algum a esse respeito, nem de
comida, nem de vestido, nem de outras coisas criadas, nem do dia de
amanhã, empregando essa solicitude em outra coisa mais elevada, que
é buscar o reino de Deus, ou seja, em não faltar a Deus, porque o
demais, como disse Sua Majestade (Mt 6,33), ser-nos á dado em
acréscimo, pois não há de esquecer de ti aquele que cuida dos
animais. Com isso adquirirás silêncio e paz nos sentidos.
Terceira
cautela
-
A terceira cautela é muito necessária para saberes te guardar, no
convento, de todos os danos a respeito dos religiosos, pois, por não
haverem observado, muitos não apenas perderam a paz e o bem da sua
alma, como vieram e vêm, ordinariamente, a cair em muitos males e
pecados. Consiste essa cautela em evitares com todo o cuidado o
pensamento e mais ainda falar sobre o que se passa na comunidade; o
que acontece ou aconteceu com qualquer religioso em particular; não
te ocupes da sua maneira de ser, do seu trato, das suas coisas, por
mais graves que sejam. Nem a pretexto de zelo, de remédio a dar,
digas coisa alguma, a não ser a quem de direito convém dizê-lo a
seu tempo. Não te escandalizes nem jamais te admires de coisas que
vejas ou percebas, procurando guardar tua alma no esquecimento de
tudo isso. Porque se quiseres reparar em alguma coisa, mesmo que
vivas entre anjos, muitas coisas não te parecerão bem por não
compreenderes a substância delas.
-
Sirva-te de exemplo a mulher de Ló, que por se ter perturbado com a
perdição dos sodomitas e voltado a cabeça para observar o que se
passava, a castigou o Senhor transformando-a em estátua de sal. É
para que entendas que, ainda no caso de viveres entre demônios, Deus
quer que vivas de tal modo no meio deles que não desvies a cabeça
do pensamento às suas coisas, mas as deixe totalmente, procurando
conservar a alma pura e inteira em Deus, sem que qualquer pensamento
a respeito disso ou daquilo, te possa estorvar.
E
para isso tem o fato comprovado que nos conventos e comunidades nunca
há de faltar empecilhos, pois nunca faltam demônios que procuram
derrubar os santos, e Deus assim o permite para os exercitar e
provar.
E,
se não tomares precaução, segundo ficou dito, fazendo como se não
estivesses em casa, não poderás ser religioso, por mais que se
esforces, nem chegar à santa desnudez e recolhimento, nem te
libertar dos danos que isso acarreta. Porque, não fazendo assim, por
melhor intenção e zelo de que estejas animado, numa ou noutra coisa
te colherá o demônio, e bastante envolvido já te encontras quando
dá ensejo a que q tua alma se distraia em qualquer dessas coisas.
Recorda-te do que disse o Apóstolo São Tiago (1,26): Se alguém
julga que é religioso, não refreando a língua, é vã a sua
religião. E isto estende-se não menos da língua interior que da
exterior.
CONTRA
O DEMÔNIO
Este
segundo inimigo, o demônio, é o mais difícil de se descobrir suas
obras. Dentre os três, ele é o mais forte e o mais obscuro de se
perceber, suas astúcias e tentações são as mais fortes e duras de
se vencer por se tratar de um ser espiritual. Sua inteligência e
acuidade mental são superiores à nossa. Suas faculdades são
maiores que a humana, uma vez que, sendo anjo, possui a natureza e
capacidades angelicais.
Só
pela luz do Espírito e pelos ensinos da Igreja sobre o demônio
conseguimos desvendar as artimanhas e insídias do inimigo de Deus.
Sabemos que as obras demoníacas são repugnantes e por isso, para
nos oferecê-las, satanás precisa revesti-las sob a forma do bem.
Caso contrário, não a aceitaríamos. Daí a importância do
Espírito de Deus. Assim, o inimigo é fragilizado pois suas obras
são desmascaradas.
É
pela humildade que vencemos o diabo e tornamos fracas todas suas
obras. Quanto mais humildes, menos ocasiões de queda serão
encontradas em nós, uma vez que conhece bem a natureza de uma alma
orgulhosa.
Humildade
exige desapego de si mesmo. Desapego das próprias vontades, do
próprio querer. Humildade supõe humilhação. Humildade supõe
obediência. Humildade exige silêncio mesmo diante de acusações e
falsos testemunhos. Humildade exige esquecer-se de si mesmo. Jesus
foi obediente ao Pai até a morte de Cruz. Assim, quanto mais
humildes formos, mais parecidos com Jesus seremos e mais força
teremos diante do demônio para vencê-lo.
Destas
3 cautelas deve lançar mão quem quer aspirar à perfeição, a fim
de livrar-se do demônio, seu segundo inimigo. Para isso, é de
advertir que, entre os numerosos ardis usados pelo demônio para
enganar os espirituais, o mais comum é enganá-los sob a aparência
de bem e não sob a aparência de mal; pois sabendo que, conhecido o
mal, dificilmente o abraçariam. E, assim, hás de acautelar-te
sempre de que te parece bem, máxime não intervindo nisso a
obediência. A segurança e o acerto nestas coisas reside no conselho
daquele que o deve dar.
Primeira
cautela
-
Seja, pois, a primeira cautela, no sentido de que jamais te movas a
coisa alguma, ainda que te pareça boa e cheia de caridade, quer para
ti quer para qualquer outra pessoa, dentro e fora de casa, sem ordem
de obediência, a não ser para aquilo que por ordem estás obrigado.
Com este modo de proceder, adquirirás mérito e segurança. Livra-te
de propriedade e fugirás do demônio e evitarás danos que nem
imaginas e de que, a seu tempo, Deus te pedirás contas. Mas, se não
observares esta cautela, tanto no pouco como no muito, por mais que
te pareça acertar, não deixarás de ser enganado, em pouco ou em
muito, pelo demônio. E se não te regeres em tudo pela obediência,
já não estarás isento de erro culposo, pois Deus quer antes a
obediência que sacrifícios (1Sm 15, 22). As ações do religioso
não lhe pertencem, mas são da obediência e se dela as subtraíres,
delas te pedirão contas, como se fossem perdidas.
Segunda
cautela
Seja
a segunda cautela no sentido de jamais considerares o prelado menos
que Deus, seja ele quem for, pois foi constituído em seu lugar.
Acautela-se neste ponto, pois o demônio, inimigo da humildade, mete
muito aqui a mão. E considerando o prelado do modo acima dito, será
grande o bem e aproveitamento que te advirão, e não sendo assim,
grande a perda e o dano. E, portanto, põe-te cuidadosamente de
sobreaviso para não considerares a sua índole, o seu trato, a sua
aparência, nem outras maneiras suas de proceder; porque com isso
far-te-ás tanto dano que virás a mudar a obediência de divina em
humana, movendo-te ou não, apenas pelos modos que puderes observar
visivelmente no prelado, e não no Deus invisível, a quem nele
serves. E a tua obediência será vã ou tanto mais infrutuosa quanto
mais te magoares com a índole adversa do teu prelado, ou com a sua
índole agradável, te alegrares. Asseguro-te que por haver o demônio
feito com que considerassem as coisas por este prisma, induzindo a
pôr os olhos nestas exterioridades, acerca da obediência, conseguiu
arruinar na perfeição a muitíssimos religiosos, e seus atos de
obediência são de muito pouco valor diante de Deus.
Se
não te esforçares neste ponto, de modo que já pouco te importe que
o prelado seja este ou aquele, pelo que pessoalmente te diz respeito,
não poderás de forma alguma ser espiritual nem observar bem os teus
votos.
Terceira
cautela
A
terceira cautela, diretamente contra o demônio, é que no íntimo do
coração procures sempre humilhar-te em palavras e obras,
regozijando-se do bem dos outros como se fosse teu e querendo que
sejam preferidos a ti em todas as coisas e isto com inteira
sinceridade. Assim agindo, vencerás o mal com o bem, expulsarás o
demônio para longe e andarás com alegria no coração; e procura
exercitar mais isto com os que menos te caírem em graça.
E
fica sabendo que se assim não exercitares, não chegarás à
verdadeira caridade, nem nela aproveitarás. E sê sempre mais amigo
de ser por todos ensinado do que de querer ensinar ao menor entre
todos.
CONTRA A CARNE
É
o mais tenaz dos inimigos. Ela oferece continuamente uma oposição
ao espírito e durará até quanto durar o homem velho em nós.
Combate difícil, pois dentro de nós estão em confronto duas leis:
a do espírito e a do pecado. De um lado a concupiscência carnal –
que é a tendência a fazer o mal. Por outro lado, os mandamentos de
Deus e suas leis.
Realizar
aquilo o que a carne pede é nos satisfazer pessoalmente, é não ser
refém dos próprios sentimentos, dos desejos e do querer. E vencer a
carne é, antes de tudo, vencer o pecado que nela habita. Arrancá-lo
de nosso coração como se faz com as ervas daninhas em um terreno.
Assim, para vencermos este terceiro e pegajoso inimigo precisamos da
constância e da mortificação.
Vencer
a carne é fazer aquilo o que não gostaríamos de fazer. Os homens
guiados pelo Espírito não fazem aquilo o que gostariam de fazer
porque “os desejos da carne se opõe aos do Espírito, e estes aos
da carne; pois são contrários uns aos outros” (Gl 5,17). Muitas
vezes a vontade de Deus não é a nossa. Assim, exige-se de nós a
mortificação. Nas pequenas coisas cotidianas vencemos a carne se
fazemos aquilo o que não gostamos de fazer. Seja o arrumar casa, o
fazer a vontade do outro, o silenciar diante das contrariedades,
etc.… Se nas pequenas coisas conseguimos dizer não às regras da
carne, na luta contra o pecado será da mesma forma.
De
mais 3 cautelas há de usar aquele que quiser vencer-se a si mesmo e
à sua sensualidade, seu terceiro inimigo.
Primeira
cautela
A
primeira cautela é que compreendas que não vieste para o convento
senão para que todos te instruam e exercitem. E, assim, para te
livrares das imperfeições e perturbações que te podem oferecer a
índole e o trato dos religiosos e tirar proveito de todos os
acontecimentos, convém pensar que todos os que se encontram no
convento são agentes encarregados de te exercitar, como o são na
realidade: que uns te hão de aperfeiçoar por palavras, outros por
obras, outros pensando mal de ti e que a tudo hás de estar sujeito,
como a estátua o está a quem a lavra, pinta e doura. E se não
observares está norma, não conseguirás vencer tua sensualidade e
sentimentos, nem saberás conviver em harmonia no convento com os
religiosos, nem alcançarás a santa paz, nem te livrarás de muitos
tropeços e males.
Segunda
cautela
A
segunda cautela é que jamais deixes de fazer obras por não
encontrar nelas gosto e prazer, se convier ao serviço do Senhor que
se façam; nem as executes apenas pelo prazer e gosto que te
proporcionam, senão que deves fazê-las tanto quanto as
desagradáveis. Porque sem isso é impossível adquirires constância
e venceres a tua fraqueza.
Terceira
cautela
A
terceira cautela seja que nunca o varão espiritual ponha os olhos no
prazer dos exercícios para a eles se apegar, vindo a fazê-los só
pelo gosto que lhe proporcionam; nem fuja do amargo deles, mas antes
procure de preferência o trabalhoso e o desagradável. Com isso
põe-se freio à sensualidade, pois, de outra forma, não perderás o
amor próprio, nem ganharás o amor de Deus.
Oração
Ó
Deus que guiastes São João da Cruz à santa Montanha que é Cristo,
através da noite escura da renúncia e do amor ardente à Cruz,
concedei-nos segui-lo como mestre de vida espiritual para atingir
contemplação de vossa glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
São
João da Cruz, rogai por nós. Amém.
Reflexão
-
Procuro conhecer melhor os inimigos da alma para combatê-los?
-
Prefiro viver uma vida cômoda e fácil do que combater nesta guerra
contra os inimigos da alma?
Resolução
prática
Procurar
a luz, a força do Espírito Santo para combater nesta guerra contra
os inimigos de nossa alma, que buscam sem cessar nos desviar do
caminho da salvação não nos contentando em viver uma vida
medíocre, mas aspirando à santidade.
============================
8º
dia - Sede perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito
Evangelho
de Jesus Cristo segundo São João (Jo 14, 12-17)
Em
verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as
obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou
para junto do Pai. E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo
farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Qualquer coisa que
me pedirdes em meu nome, vo-lo farei. Se me amais, guardareis os meus
mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito,
para que fique eternamente convosco. É o Espírito da Verdade, que o
mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o
conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós.
Graus
de perfeição
- Por nada neste mundo cometer pecado, nem mesmo venial com plena advertência, nem imperfeição conhecida;
- Procurar andar sempre na presença de Deus, real, imaginária ou unitiva, segundo se coadune com as obras que está fazendo;
- Nada fazer nem dizer coisa de importância, que Cristo não pudesse fazer ou dizer se estivesse no estado em que me encontro e tivesse a idade e saúde que eu tenho;
- Procure em todas as coisas a maior honra e glória de Deus;
- Por nenhuma ocupação deixar a oração mental que é o sustento da alma;
- Não omitir o exame de consciência, sob pretexto de ocupações, e, por cada falta cometida, fazer alguma penitência;
- Ter grande arrependimento por qualquer tempo não aproveitado ou que se lhe escapa sem amar a Deus;
- Em todas as coisas, altas e baixas, tenha a Deus por fim, pois de outro modo não crescerá em perfeição e mérito;
- Nunca falte à oração e quando experimentar aridez e dificuldade, por isso mesmo persevere nela, porque Deus quer muitas vezes ver o que há na sua alma e isso não se prova na facilidade e no gosto;
- Do céu e da terra sempre o mais baixo e o lugar e o ofício mais ínfimo;
- Nunca se intrometa naquilo de que não te encarregaram, nem discuta sobre alguma coisa, ainda que esteja com a razão. E, no que lhe for ordenado, se lhe derem a unha (como se costuma dizer) não queira tomar também a mão, pois alguns, nisto se enganam, imaginando que têm obrigação de fazer aquilo que, bem examinado, nada os obriga;
- Das coisas alheias não se ocupe, sejam elas boas ou más, porque além do perigo que há de pecar, essa ocupação é causa de distrações e amesquinha o espírito;
- Procure sempre confessar-se com profundo conhecimento de sua miséria e com sinceridade cristalina;
- Ainda que as coisas de sua obrigação e ofício se lhe tornem dificultosas e enfadonhas, nem por isso desanime, porque não há de ser sempre assim, e Deus, que experimenta a alma simulando trabalho no preceito, daí a pouco lhe fará sentir o bem e o lucro;
- Lembre-se sempre de que tudo quanto passar por si, seja próspero ou adverso, vem de Deus, para que assim nem num se ensoberbeça nem no outro desanime;
- Recorde-se sempre de que não veio senão para ser santo e assim não consinta que reine em sua alma algo que não leve à santidade;
- Seja sempre mais amigo de dar prazer aos outros do que a si mesmo e, assim, com relação ao próximo, não terá inveja nem predomínio. Entenda-se, porém, que isso se refere ao que for segundo a perfeição, porque Deus muito se aborrece com os que não antepõe o que lhe agrada ao beneplácito dos homens.
Oração
Ó
Deus que guiastes São João da Cruz à santa Montanha que é Cristo,
através da noite escura da renúncia e do amor ardente à Cruz,
concedei-nos segui-lo como mestre de vida espiritual para atingir
contemplação de vossa glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
São
João da Cruz, rogai por nós. Amém.
Reflexão
-
Os primeiros Apóstolos, homens frágeis como nós, caíram,
experimentaram o desânimo, o medo, a desconfiança, mas deixaram-se
tocar pelo Espírito Santo em Pentecostes. Que faço eu?
-
Procuro Deus das consolações ou as consolações de Deus?
Resolução
prática
Pedir
a graça do Espírito Santo para buscar de todo o coração a
perfeição cristã, para alcançar e ajudar que meus irmãos
alcancem a santidade.
============================
9º
dia - O Monte da perfeição
Subida
do Monte
Evangelho
de Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 7, 13-27)
Entrai
pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho
que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram.
Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são
os que o encontram. Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós
disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores.
Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos
espinhos e figos dos abrolhos? Toda árvore boa dá bons frutos; toda
árvore má dá maus frutos. Uma árvore boa não pode dar maus
frutos; nem uma árvore má, bons frutos. Toda árvore que não der
bons frutos será cortada e lançada ao fogo. Pelos seus frutos os
conhecereis. Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no
Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está
nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não
pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos
os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi:
Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus! Aquele, pois,
que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a
um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva,
vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela
casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha. Mas
aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é
semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia.
Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram
contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína.
São
João da Cruz como confessor do convento da Encarnação (1572-1577),
desenhou o Monte da perfeição. O Santo usava pedagogicamente o
desenho em seu magistério espiritual. Desenhava vários deles e os
presenteava aos seus dirigidos.
Neste
desenho é representado o esquema da Subida do monte Carmelo, a
subida para se alcançar a perfeição. (está na última página)
Reprodução
e transcrição do "Monte" de 1618 (Desenho)
Os
versículos seguintes explicam o modo de subir pela senda do Monte de
Perfeição e alertam para não ir pelos dois caminhos sinuosos.
Modo
de vir ao TUDO
Para
vir ao que não sabes, / Hás de ir por onde não sabes. / Para vir
ao que não gostas, / Hás de ir por onde não gostas. / Para vir ao
que não possuis, / Hás de ir por onde não possuis. / Para vir a
ser o que não és, / Hás de ir por onde não és.
Modo de obter o TUDO
Modo de obter o TUDO
Para
vir a saber tudo, / Não queiras saber algo em nada. / Para vir a
saborear tudo, / Não queiras saborear algo em nada. / Para vir a
possuir tudo, / Não queiras possuir algo em nada. / Para vir a ser
tudo, / Não queiras ser algo em nada.
Modo para não impedir o tudo
Modo para não impedir o tudo
Quando
reparas em algo, / Deixas de lançar-te ao tudo. / Porque para vir de
todo ao tudo, / Hás de deixar de todo ao tudo. / E quando venhas de
todo a ter, / Hás de tê-lo sem nada querer. Porque se queres ter
algo em tudo, Não tens puro em Deus teu tesouro.
Indício de que se tem tudo
Indício de que se tem tudo
Nesta
desnudez encontra o espírito sossego e descanso, porque, como nada
cobiça, nada o impele para cima e nada o oprime para baixo, porque
está no centro de sua humildade; em cobiçando algo, nisso mesmo se
fadiga.
(Em
torno do Monte)
Monte
de Deus, monte elevado, monte alcantilado, monte em que Deus se
compraz em habitar (Sl 67, 16-17)
(As
3 sendas do Monte, da esquerda para a direita)
Caminho
do espírito imperfeito:
Demorei mais e subi menos, porque não tomei a senda. Bens do Céu –
por havê-los procurado tive menos do que teria se houvesse subido
pela senda.
Senda estreita da perfeição: “Estreito é o caminho que conduz à vida” Mt 7, 14.
Bens do Céu: Glória – nem isso; segurança – nem isso; gozo – nem isso; consolos – nem isso; saber – nem isso; Nada, nada, nada, nada, nada.
Bens da terra: Gosto – também não; liberdade – também não; honra – também não; ciência – também não; descanso – também não. Tanto mais algo serás, quando menos o quiseres ser.
Senda estreita da perfeição: “Estreito é o caminho que conduz à vida” Mt 7, 14.
Bens do Céu: Glória – nem isso; segurança – nem isso; gozo – nem isso; consolos – nem isso; saber – nem isso; Nada, nada, nada, nada, nada.
Bens da terra: Gosto – também não; liberdade – também não; honra – também não; ciência – também não; descanso – também não. Tanto mais algo serás, quando menos o quiseres ser.
Caminho
do espírito errado: Quanto
mais os procurava, com tanto menos me achei – Não pude subir ao
Monte por enveredar por caminho errado.
(Cimo
do Monte, da esquerda para a direita segundo os diversos planos)
Quando
não o quis, com amor de propriedade, foi-me dado tudo sem que o
buscasse
E
no Monte, nada
Por
aqui não há caminho, pois para o justo não há lei.
Depois
que me pus em nada, acho que nada me falta.
Sabedoria,
Ciência, Fortaleza, Conselho, Inteligência, Piedade, Temor de Deus
Justiça,
Força, Prudência, Temperança
Caridade,
Alegria, Paz, Longanimidade, Paciência, Bondade, Benignidade,
Mansidão, Fé, Modéstia, Continência, Castidade
Segurança
– Fé, Esperança, Amor
Divino
Silêncio – Divina Sabedoria – Perene Convívio
SÓ
MORA NESTE MONTE A HONRA E A GLÓRIA DE DEUS.
“Eu
vos introduzi na terra do Carmelo, para que comêsseis o seu fruto e
o melhor dela” (Jr 2,7)
A
perfeição desta vida será a “união transformante”, na qual a
vontade da alma se acha transformada, pelo amor, na vontade de Deus:
duas vontades num só e mesmo amor. Graça muito alta e rara. Embora
eles também sejam dons gratuitos de Deus, podemos e devemos nos
dispor a recebê-los. Deus não põe sua graça na alma senão na
medida da vontade e do amor dela.
A
Subida ensina a entrega a Deus e o caráter total que deve revestir.
Não admite complacência ou meia medida. Exige a renúncia absoluta.
Desejando a alma que Deus se dê todo a ela, deve entregar-se toda a
Ele. Sem dúvida, é Deus que vem a nós; todavia, devemos nos pôr a
caminho, procurá-lo, remover os obstáculos.
Oração
Ó
Deus que guiastes São João da Cruz à santa Montanha que é Cristo,
através da noite escura da renúncia e do amor ardente à Cruz,
concedei-nos segui-lo como mestre de vida espiritual para atingir
contemplação de vossa glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
São
João da Cruz, rogai por nós. Amém.
Reflexão
-
Procuro conformar a minha vontade com a vontade de Deus?
-
Procuro trilhar o caminho estreito, ou prefiro a estrada larga e
espaçosa?
Resolução
prática
Procurar
fazer em tudo a vontade do Bom Deus, mesmo que essa vontade muitas
vezes me faça sofrer, pois muito maior será a minha recompensa no
céu.
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