quinta-feira, 14 de novembro de 2019

O filho pródigo (Lc 15,11-32)

 


Acho minha história um pouco parecida com a do filho pródigo, embora eu não tenha pedido a minha herança, mas pelo afastamento do pai, pela entrega aos prazeres da carne. E acredito que há muitos filhos pródigos pelo mundo afora, uns que já retornaram ao seio familiar, outros que ainda andam perdidos, comendo a lavagem que o mundo oferece. Este capítulo é para você que um dia deixou o caminho de Deus para viver o seu próprio caminho, é para você que sonha voltar pra casa, mas está sem jeito, com medo de críticas, com medo do abraço do pai.
Conta a palavra de Deus que um homem tinha dois filhos. Certo dia o mais novo chegou para o pai e pediu a parte da herança que lhe cabia. Você já parou pra pensar como este filho pediu ao pai esta herança? Será que ele chegou de mansinho ou foi arrogante? Como será que procedeu este diálogo?  Acredito que o filho tenha sido bastante imperativo, pois como traz o texto Pai, me dá a parte da herança que me cabe!”. Ele foi incisivo. Não deu alternativa para o pai. Não houve por favor, não houve será que é possível o senhor me dá a minha parte da herança...  Foi contundente naquilo que queria: “Pai, me dá a minha herança”.  Ele deu uma ordem ao próprio pai. Inverteu os papéis e talvez pela sua ânsia de partir nem se deu conta do que estava fazendo, talvez nem percebeu as possíveis lágrimas nos olhos do pai ou talvez a voz engasgada atendendo aquele pedido tão inesperado. Quantas vezes agimos assim diante daqueles a quem amamos? Quantas vezes agimos assim quando queremos algo? Ouvimos só a nós mesmos e nada que nos cerca tem importância, o que importa é ir adiante em busca de meus objetivos sem se importar se alguém está ficando ferido ou não. Com certeza aquele pai ficou sangrando de dor. O egoísmo falou mais alto e todos os sentidos daquele jovem ficaram obscurecidos pela sua sede de receber a herança.
 Herança são os bens recebidos de alguém após sua morte, portanto naquele momento podemos concluir que para aquele filho seu pai estava morto. O que importava para ele era ter o seu dinheiro na mão. Não pensou no seu irmão mais velho, não pensou no seu pai, só em si mesmo, esqueceu talvez que o coração de seu pai ainda pulsava, mas pra ele nada daquilo mais importava. Queria partir.
 De posse da herança ele partiu para um lugar distante. Lá esbanjou tudo numa vida desenfreada. Aproveitou os prazeres que o mundo ofereceu. Com certeza fez muitos “amigos” enquanto tinha dinheiro, conquistou muitas mulheres. E neste período de fartura nem se lembrou do pai. Não é diferente com muitas pessoas hoje em dia. Eu vivi isso como relatei no capítulo anterior. É um mergulho no nada e cada vez queremos mais e mais e nada nos satisfaz, por isso a necessidade de buscar mais e mais e até nos consumirmos, até não termos mais forças físicas. Quando gastou tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região. Ele começou então a passar necessidade. Acabou parando num sítio onde cuidava dos porcos e a fome era tanto que desejou comer a lavagem dos porcos, mas nem isso lhe davam. Quando saímos da presença de Deus, deixamos um banquete para comer lavagem, deixamos um jardim de delícias para viver num labirinto, não sabemos pra onde estamos indo e cada caminho nos leva a um lugar diferente, a experimentar um pecado novo, uma nova transgressão, enquanto o caminho do Pai nos leva a único lugar: o céu.
 Caindo em si lembrou-se dos empregados do seu pai, os quais tinham pão com fartura e ele naquele lugar distante e passando fome. Decidiu voltar. Tão logo seu pai o avistou encheu-se de compaixão. Correu ao seu encontro, o abraçou e o cobriu de beijos. Então o filho disse: “Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu filho”. O pai, porém, pediu aos empregados que trouxessem depressa a melhor túnica para vestir seu filho. Pediu que colocassem um anel em seu dedo e sandálias nos pés. Pediu ainda que matassem um novilho gordo para fazer um banquete. E completou dizendo: “Porque este meu filho estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado.”
Com certeza este filho ficou surpreendido com a atitude do pai, pois quando decidiu voltar para a casa ele trazia este pensamento em seu coração: “... vou me levantar, e vou encontrar meu pai, e dizer a ele: - Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu filho. Trata-me com um dos teus empregados.”  Imagine alguém que esperava ser tratado como um empregado ser recebido com festa, receber roupas novas e ser coberto de beijos e envolvido pelos braços calorosos do pai. Quanta emoção se passou naquele instante! Eu imagino o que aquele filho sentiu ao ser recebido sem um dedo apontado para o seu nariz. Quanta alegria ele teve em seu coração ao receber o perdão, a misericórdia do pai! Talvez ele viesse pensando pelo caminho como convencer seu pai para aceitá-lo de volta, talvez viesse ensaiando a fala, trêmulo, agitado, sem graça, mas nada foi como imaginou, e aquilo o impactou. Foi acolhido de braços abertos porque para o pai ele nunca deixou de ser filho, para o pai ele não perdeu o valor mesmo cometendo tantos erros, para o pai ele continuava especial e como tal deveria ser recebido.
Hoje muitos jovens perdem o jeito de voltar por medo da rejeição, das críticas, medo do dedo apontado em sua direção, medo das palavras duras, do castigo. Muitos pensam que não há mais retorno, que ninguém se importa mais com eles, que já não tem mais jeito, estão perdidos e não há mais solução para tantos erros.  E com esses pensamentos vão se enveredando cada vez mais para um caminho escuro que leva para a morte. Mas é preciso saber que a misericórdia de Deus vai além da nossa fraqueza e nós não a entendemos. Não importa em que caminho você tenha andado, se quiser voltar, tenha certeza o Pai estará sempre te esperando na varanda, no portão de sua casa e os braços estendidos para abrigá-lo em seu peito e dizer que o ama, que nunca deixou de amar, que aceita você de volta e que vai ajudar você. Para todo caminho há uma volta. Não tenha medo.
Se aquele jovem tivesse se apegado aos sentimentos que tumultuavam sua mente talvez não tivesse voltado para casa. Outro fato interessante é que ele reconheceu seus erros. E estava disposto a levar uma nova vida, mesmo que não fosse como filho, mas queria estar perto do pai nem que fosse como um empregado, isso lhe bastaria. Não importava ser tratado com um servo, desejava estar de volta à casa do pai onde poderia saborear o pão com fartura...  Reconheço que o filho pródigo era um jovem de atitude. Quando quis sair de casa foi firme em sua decisão, e quando sentiu o desejo de voltar também não hesitou. Enfrentou o desafio interior e retornou. É preciso atitude para mudar de vida, para retornar.
Quando o filho mais velho ao retornar do trabalho ouviu barulho de música e barulho de dança chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. O criado contou-lhe o que havia acontecido. Então ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai insistiu com ele, mas ele respondeu: “Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci ao qualquer ordem tua; e nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Quando chegou este teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho gordo!” O pai lhe respondeu: ”Filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu, mas era preciso festejar e nos alegrar, porque esse seu irmão estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado.” A princípio tendemos dar razão ao filho mais velho, afinal ele que trabalhava de sol a sol, que estava junto do pai, cuidando das suas coisas... Mas na verdade sua atitude foi egoísta, não usou de misericórdia. Não se alegrou em ver o irmão que talvez julgassem estar morto, não foi capaz de ver a alegria do seu pai em receber o filho de volta, demonstrou ter um coração endurecido, incapaz de perdoar. E quando falou com o pai nem o chamou de irmão (este teu filho), mas o pai ao dar a resposta fez questão de frisar esse seu irmão estava morto... Como se dissesse não é apenas meu filho, é seu irmão! Seu irmão, meu filho! É seu irmão que voltou, alegre-se comigo! Ele foi reencontrado! Você já está comigo e me deu alegria todos estes anos, mas este teu irmão estava morto e tornou a viver, é preciso festejar, pois há muito não o víamos.
Esse encontro do filho pródigo com o pai é um momento único na vida daquele jovem e acredito que a partir daquele momento ele entendeu o verdadeiro sentido da sua existência e pode experimentar profundamente a misericórdia. Quantas jovens desejam ter esse encontro! Quantos pais esperam ansiosos seus filhos para darem um abraço! Muitos moram sob o mesmo teto, mas vivem em mundos diferentes, uns mortos, outros enfermos. Há um vazio na alma que precisa ser preenchido. Há uma busca frenética para satisfazer seus desejos, para sentirem felizes, mas em tudo que buscam não se sentem plenamente felizes; em alguns momentos talvez, mas quando a euforia passa o jovem vê que a alegria foi embora com efeito do álcool ou da heroína. Então ainda em si vê suas misérias e muitas vezes lhe falta atitude para voltar ou dar um grito por socorro! 
        Finalizando quero enfatizar uma coisa: nunca é tarde para voltar nem cedo demais para perdoar. Seja você o filho pródigo, o irmão mais velho ou o pai, o que nos move é o amor, portanto use sempre de misericórdia. O encontro com Deus modifica as pessoas e as impulsiona a ir atrás daqueles que estão longe, a receber bem os que retornam, mesmo aqueles que julgamos não merecer mais uma chance, mesmo aqueles que já retornaram várias vezes e se sucumbiram ao pecado, mesmo aqueles que não nos querem bem, portanto quem teve um encontro com Deus, encontrou o amor e amor perdoa, acolhe, é paciente, tudo suporta...

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